Nem toda a cirurgia é bem-sucedida. As mãos do escritor podem deixar o leitor mais confuso, mais desarvorado. Meu primeiro encontro com Nietzsche foi assim. Ele é um excelente cirurgião, mas perigosíssimo.
Lembro-me que li inadvertidamente, com meus 17 ou 18 anos, Genealogia da moral. Um terremoto. Passaram-se 30 anos, e Nietzsche para mim, hoje, é muitas vezes bálsamo. Naquela altura, porém, vivendo um cristianismo ingênuo, e sem o preparo necessário, senti minhas entranhas se contorcerem.
Foi uma cirurgia invasiva demais, para arrancar um tumor que eu não tinha. Perdi muito sangue, precisei, depois, de outras cirurgias reparadoras.
No final deu tudo certo, mas esse é um aspecto da terapia literária ao qual precisamos dar atenção. Sobretudo quando se acredita que somos aquilo que lemos... e que lemos aquilo que somos.
domingo, 20 de dezembro de 2009
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