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é escritor, tradutor, doutor em Filosofia da Educação (USP), professor, palestrante, blogueiro, autor de vários livros sobre leitura, linguagem, escrita criativa, educação, formação docente e estética. Mais informações no site www.gabrielperisse.com

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Leitura e fanatismo

Leitura profilática que nos proteja de fanatismos.

Virginia Woolf (1882-1941) dizia que ler é como abrir uma porta e ver uma horda de loucos atacando nosso corpo em vinte pontos ao mesmo tempo. Ler nos protege de superstições e outras manias mentais. Ler nos pergunta se, afinal, temos ou não convicções. Ler problematiza a vida, apresenta-nos paradoxos, põe à nossa frente contrastes e nuances, nos ensina a perceber ambiguidades e contradições.

Uma leitura que me proteja do fanático que está dentro de mim, pronto para fazer estragos. O fanático tem dificuldade para aceitar o que lhe soa diferente. Não sabe conviver com o contrário. E, simultaneamente, perdendo todo o senso crítico que parecia possuir, tende a cultuar alguma personalidade a seu ver mais bela e mais forte, a canonizar um pensador, um escritor, um artista, um líder religioso.

Eu sou fanático. Reconhecer que sou fanático é a única chance de eu não cair no mais insano dos fanatismos. Vejo em personagens enlouquecidos o fanático que existe em mim. O tresloucado que transita dentro de mim. O obsessivo que habita em mim. O demente que dorme em mim.

Dois livros de Lourenço Mutarelli (1964-) me ajudaram, em leitura recente, a reconhecer a minha insanidade e, constatando-a nas histórias, na ação dos personagens, descobrir que sou potencialmente louco... como qualquer ser humano normal!

O natimorto, e Miguel e os demônios. Ambos pela Companhia das Letras.


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