Um desconcertante aforismo do Dr. William Osler (1849-1919), canadense, pai da medicina ocidental moderna: "Um dos primeiros deveres do médico é ensinar às massas não tomarem remédio."
Dr. Osler preocupava-se com a "educação continuada" do médico num tempo em que esse conceito não estava em voga. Defendia a necessidade de os estudantes dedicarem tempo, não só para o aprofundamento em sua especialidade, mas também na aquisição de cultura espiritual, emancipando-se intelectualmente e aprendendo a refletir com autoconfiança.
Em seu famoso discurso A way of life, de 1913, citando Aristóteles, Goethe, Carlyle, Descartes, Voltaire, e a Bíblia, recomendava aos jovens que não passassem um só dia sem folhearem algo da melhor literatura mundial, e que cada um fosse o seu próprio daysman, o seu próprio árbitro, em busca do aprimoramento pessoal. Cultivava uma postura filosófica e humanista perante a vida e a medicina.
Aquele aforismo revela essa postura. E pressupõe a adesão, mais ou menos consciente, a uma determinada teoria educacional. O médico atua como professor das massas, encorajando-as a repensar o próprio papel do médico. O paciente vem em busca de medicamentos. Um dos deveres do médico é ensinar-lhe que tomar remédios não é o mais importante. Este ensinamento frustra o paciente, subverte sua maneira habitual de avaliar a medicina.
No entanto, se um dos primeiros deveres do médico, ou o primeiro dever, é curar o doente, curá-lo significa também esclarecê-lo sobre a verdadeira função dos remédios. Ou, indo mais longe, fazer-lhe descobrir novos remédios. A leitura, por que não?
domingo, 13 de dezembro de 2009
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