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é escritor, tradutor, doutor em Filosofia da Educação (USP), professor, palestrante, blogueiro, autor de vários livros sobre leitura, linguagem, escrita criativa, educação, formação docente e estética. Mais informações no site www.gabrielperisse.com

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Leitura e ceticismo

Leituras que previnem os fanatismos podem ter um efeito colateral: o ceticismo generalizado. Evitemos o engajamento ingênuo, saibamos que chegar a uma verdade é possibilidade remota, vejamos os bastidores. Os bastidores revelam a podridão que as fachadas ocultam. Comentemos criticamente o que os outros pensaram, disseram, escreveram. Mantenhamo-nos longe de utopias...

Desconfiar é saudável... mas a descrença absoluta em valores e princípios pode gerar outro tipo de fanatismo. O antifanático fanático alimenta a ideia fixa de que nenhuma ideia, exceto esta, é plenamente confiável.

O ceticismo pode levar também à melancolia, a um "clima" emocional e intelectual em que as crenças se afundam todas, tenham ou não alguma razão de ser.

Outra decorrência. É quando o cético desiste de ler, pensar, criticar, discutir... atividades sem futuro, e vai se dedicar a alguma aventura prazerosa, radical ou delicada. (O que talvez lhe infunda novo gosto pela vida.)

A contrapartida são leituras que relativizem o relativismo. O livro Nem tudo é relativo, de Hilton Japiassu (Editora Letras & Letras, 2001) puxa o freio antes do abismo, e faz repensar algumas questões atualíssimas, mas clássicas, em torno da busca da verdade.
Seria este livro de Japiassu (existem outros semelhantes) para quem gosta do gênero ensaios. Para quem prefere poesia, eu recomendaria Thiago de Mello (1926-), em particular o de Os estatutos do homem, poema de 1964, que termina assim:

Artigo Final:

Fica proibido o uso da palavra liberdade
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
ou como a semente do trigo,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

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